Como funciona o Alos
O Alos (Satélite de Observação Avançada
da Terra, em inglês) entrou em operação em 24
de janeiro de 2006. Seu principal objetivo, além da cartografia,
é observar os efeitos de grandes desastres naturais e funcionar
como um provedor de dados para pesquisas. Ele fica a 692 quilômetros
de altitude e redireciona as informações coletadas para
o satélite geoestacionário DRTS, ou Kodama, que as transmite,
então, para o outro lado do planeta até o Centro de
Observação da Terra, órgão do governo
japonês, que fica nos arredores da capital Tóquio. De
lá, os dados são enviados para diversos lugares do mundo.
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(Reportagwem:
Luis Yuaso/NB | Fotos: Wilson Dias/ ABr e Cesar Paes Barreto/Divulgação)
O
desmatamento ilegal e predatório na Floresta Amazônica pode
estar com os dias contados. Desde junho do ano passado, o Alos, um satélite
japonês capaz de visualizar o solo mesmo em dias em que o céu
está coberto por nuvens espessas, fiscaliza detalhadamente toda
a região em busca de indícios de desmatamento e notifica
as autoridades competentes em tempo real. A ação, fruto
de uma parceria entre o Centro de Sensoriamento Remoto do Ibama (CSR),
o Departamento de Polícia Federal (DPF), a Agência de Cooperação
Internacional do Japão (Jica) e a Agência Espacial Japonesa
(Jaxa), é uma das responsáveis pela redução
na taxa de desmatamento de 72% nos meses de outubro e novembro de 2009,
em relação ao mesmo período do ano anterior.
O conceito
do uso de satélites no combate a esse tipo de crime ambiental não
chega a ser uma novidade. Desde maio de 2004, o Deter (Detecção
do Desmatamento em Tempo Real) fiscaliza a floresta em busca de possíveis
focos de agressões ao meio ambiente. O grande empecilho técnico,
porém, é sua incapacidade de processar as imagens em dias
nublados, situação que ocorre quase seis meses por ano.
As imagens utilizadas no Deter são ópticas, portanto,
não é possível o monitoramento da Amazônia
em épocas chuvosas por causa das nuvens. Como as ondas de radar
(do Alos) transpassam as nuvens, a observação é possível
em qualquer tempo, afirma Julio Inoue, coordenador de projetos da
Jica.
A parceria
com o Japão tem duração prevista de três anos,
mas o CSR já trabalha no desenvolvimento de um sistema próprio
de produção de informações da localização
de novos desmatamentos mesmo em épocas de grande cobertura de nuvens.
O Brasil tem a melhor tecnologia para a detecção de
desmatamentos em florestas tropicais do mundo e existem várias
iniciativas em andamento no País para a continuidade do monitoramento
por satélites com uso de radares, afirma Felipe Luís
Matos, analista ambiental do Ibama e um dos oito técnicos e policiais
federais que passaram por treinamento no Japão para análise
das informações geradas pelo Alos.
Autuação
A
exploração predatória da Amazônia pode
estar perto do fim
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Governo
brasileiro projeta meta de redução de 95% no desmatamento
da Floresta Amazônica até 2020
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Na prática,
o combate ao desmatamento funciona da seguinte maneira: as imagens processadas
pelos satélites são monitoradas pelo Ibama, que analisa
a situação e, dependendo do caso, aplica multas ao infrator
ou o denuncia à Polícia Federal. Havendo indício
de crime, somos comunicados e vamos até o local para verificar
o que aconteceu. Também há casos em que os dois órgãos
atuam em parceria, como na Operação Arco de Fogo,
explica David Bronze Molles, perito da Polícia Federal em Manaus
(Amazonas) e que também esteve em treinamento no Japão.
Molles, por
sinal, já fez uso da tecnologia para impedir um caso de desmatamento
ilegal. Utilizando uma imagem do satélite Landsat 5, identifiquei
uma área de desmatamento recente. Com a mesma imagem e com dados
de outros órgãos oficiais analisei o terreno e estabeleci
a melhor rota para chegar ao local. Essas informações foram
colocadas em um GPS e em mapas distribuídos aos membros da equipe
policial. Ao chegarem, encontraram uma área recém-desmatada
e queimada. Apesar de não haver nenhum responsável ali naquele
momento, os agentes federais conseguiram identificá-lo e ele foi
indiciado, explica o perito.
Com a implantação
da parceria e o desenvolvimento de novas tecnologias, o Ministério
do Meio Ambiente já prevê uma redução de mais
de 95% da área desmatada até 2020 em relação
à década anterior, batendo a meta de 80% proposta pelo Plano
Nacional de Mudanças Climáticas aprovado pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Fato que leva o ministro Carlos Minc
a mandar um aviso aos predadores ambientais. Tremei poluidores,
vai acabar a invisibilidade. Antes os satélites ficavam cegos durante
cinco meses no ano por causa das chuvas. Agora, combinando o Inpe com
o satélite japonês, vamos ver e combater o crime ambiental
durante todo o ano.
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União
de tecnologias
Entre os profissionais que trabalham
na fiscalização ao desmatamento ilegal na Amazônia,
uma unanimidade: a tecnologia é a grande aliada no combate aos
predadores ambientais. Nós não temos estatísticas
específicas sobre quais ferramentas utilizamos em cada caso, mas,
na minha experiência na Amazônia, posso dizer que, em 100%
dos casos de desmatamento, há uso de algum tipo de sensoriamento
remoto, seja por imagem de satélite ou imagem produzida por sensores
embarcados em aeronaves, afirma o policial federal David Bronze
Molles.
Para
fiscalizar a região, as autoridades brasileiras fazem uso de tecnologias
complementares. Um dos mais antigos em operação é
o Prodes, que desde os anos 70 mede as taxas anuais de desmatamento com
base em imagens geradas pelo satélite norte-americano Landsat 5.
Porém, o equipamento só consegue captar áreas superiores
a 6,25 hectares. Por emitir relatórios anuais, ele é complementado
com o uso do Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real),
que, apesar do processamento rápido de imagens, é incapaz
de visualizar sob as nuvens detalhe que já foi corrigido
com o uso do satélite japonês Alos.
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