(Texto:
Venerável Mestre Hsing Yün | Foto:
Divulgação)
Podemos dividir
os fenômenos caleidoscópicos do mundo em dois diferentes
grupos: seres sencientes e seres inanimados. Seres sencientes são
humanos, pássaros, animais, enquanto os inanimados são montanhas,
rios, árvores, flores, entre outros. Quando um ser senciente ensina
o Darma, podemos ouvi-lo; quando um ser inanimado o faz, isso é
ainda mais aprazível e tocante. Quando o mestre Daosheng
expõe o darma, até a mais dura rocha concorda. Nesse
caso, não é só o mestre Daosheng que está
ensinando o darma. A dura rocha também está ensinando. Se
a dura rocha não estivesse ensinando, como poderia ela concordar?
Vemos nuvens
brancas flutuando livremente no céu e rios fluindo sinuosos e serenos
para o mar; a naturalidade das nuvens brancas e a serenidade dos rios
nos mostra o quão libertos eles são. Vemos a mudança
das estações, a passagem do tempo, as flores que desabrocham
para depois murchar, o envelhecimento das coisas esse é
o modo como a natureza nos ensina o significado da impermanência.
Podemos usar
nossos ouvidos para escutar os ensinamentos dos seres sencientes, mas
devemos usar nosso coração para ouvir o inanimado. Na verdade,
tudo em nossa vida diária nos ensina alguma coisa. As flores da
primavera e a lua de outono são agradáveis de observar,
os pássaros que cantam e os insetos que zumbem deliciando nossos
ouvidos. Mesmo o chá do mestre Chan Zhaozhou e os biscoitos
do mestre Chan Yunmen são instrumentos para ensinar o darma.
Seja o som do tambor, seja o soar do sino do templo quando amanhece e
anoitece ou a sinfonia dos diferentes instrumentos de darma, tudo ensina
o darma.
Desastres naturais
são um meio usado pela Terra para nos lembrar de quão frágil
é o nosso mundo; por meio das flores murchas, a natureza nos ensina
sobre a impermanência da vida. Guerras e batalhas evidenciam o sofrimento
e o vazio da vida; a doença, o envelhecimento e a morte mostram
que nosso corpo é fonte de sofrimento. Olhe à sua volta
durante o dia. Não importa o que você esteja fazendo
se vestindo, comendo, descansando, viajando, caminhando, sentando, aguardando,
dormindo , em tudo poderá ver o surgimento, a existência,
a mudança e a extinção de todos os fenômenos.
Testemunhamos o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte
dos seres sencientes. Todas essas coisas nos ensinam o darma.
Um mestre Chan
pegou um espanador e disse: Você entende?. Se entender
o significado disso, você é iluminado. Um mestre Chan
pode apontar para uma árvore no jardim e perguntar: Você
sabe?. Se souber, você é um praticante Chan.
Entretanto, o eco de um vale profundo ou a música da natureza não
são tão fáceis de entender. Coma quando tem
fome e vá deitar-se quando tiver sono é o darma do
dia-a-dia. Dar sem apego e ajudar os outros abnegadamente
é a mais elevada forma de ensinamento. Se você puder ouvir
não apenas os ensinamentos dos seres sencientes, mas também
compreender os ensinamentos do inanimado, terá descoberto o significado
da vida. Poderá, então, livrar-se da ignorância e
tornar-se iluminado.
|