Opinião
- Edição 581 - Jornal NippoBrasil
Cenário econômico para este ano
Alberto Furuguem*
Economia
Mundial
As projeções para o crescimento do PIB mundial, feitas
pelo grupo de analistas da revista The Economist, indicam uma expansão
entre 3% e 4% para 2011. Nada mal, se for confirmado, pois equivale à
média histórica de crescimento da economia mundial.
O PIB dos Estados
Unidos poderá crescer em torno de 2,3% em 2011, o da China, perto
de 8,9%, o do Japão cerca de 1,3% e o da Zona do Euro quase 1,3%
(2% da Alemanha). Os principais emergentes continuarão a crescer
acima da média mundial, principalmente os asiáticos. O PIB
da Índia poderá crescer 8,6%, confirmando o bom desempenho
dos últimos anos.
A maior ameaça
visível no cenário da economia mundial em 2011 decorre dos
problemas enfrentados por alguns países da Zona do Euro, como a
Grécia e a Irlanda (ambos já receberam ajuda financeira
do FMI e de seus pares na zona da moeda única) e outros que têm
sido mencionados (Portugal e Espanha). Parece razoável esperar,
entretanto, que os problemas pontuais desses países encontrem,
sempre, algum tipo de solução, para que não coloquem
em risco a recuperação, não somente do continente
europeu, mas da própria economia mundial.
Economia
brasileira
O desempenho da economia brasileira em 2011 dependerá, naturalmente,
da evolução da economia mundial e, em boa medida, das decisões
que forem tomadas pelo governo. As projeções feitas por
grande parte dos analistas indicam um crescimento do PIB entre 4% e 5%
em 2011 que, se confirmado, pode ser considerado um bom resultado.
As primeiras
sinalizações emitidas por Dilma Roussef, no discurso após
a vitória, foram positivas (compromisso com a estabilidade, disciplina
fiscal, câmbio flutuante).
É de
se perguntar, de qualquer forma, se o governo Dilma Roussef irá
mudar significativamente a política macroeconômica, particularmente
a política monetária. Como a inflação está
em ascensão, situando-se significativamente acima do centro da
meta (4,5% para o IPCA), já na reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC) de janeiro, a primeira sob
comando de Alexandre Tombini, poderemos sentir a provável tendência
da nova administração da autoridade monetária. Não
será surpresa se os juros básicos (Selic) sofrerem majoração
em janeiro, visando conter as pressões inflacionárias.
Na área
fiscal a ministra indicada para a pasta do Planejamento, Mirian Belchior,
promete fazer mais com menos. Isso vai ser necessário,
efetivamente.
Em algumas
áreas, como a dos investimentos em infra-estrutura para atender
as demandas da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, elas
são urgentes e até indispensáveis. A expansão
dos gastos de investimentos não poderá, entretanto, ser
feita simplesmente por adição ao ritmo já acelerado
dos gastos de custeio.
O cenário
internacional que se apresenta para o governo Dilma Roussef, mesmo nas
melhores hipóteses, não será, nem de perto, tão
favorável como o vivenciado por Lula no seu primeiro mandato.
Uma lenta recuperação
da economia mundial, sem grandes acidentes de percurso, é o máximo
com que poderá contar o governo que assume o poder em janeiro.
Se, nos governos
FHC e Lula, o equilíbrio fiscal foi buscado principalmente pelo
aumento da carga tributária, agora esse caminho precisará
ser abandonado. As despesas públicas poderão continuar crescendo,
mas em ritmo menor do que o do próprio crescimento da economia,
para que o percentual da dívida sobre o PIB possa se reduzir ou
pelo menos não crescer. Uma expansão mais acentuada dos
investimentos em infraestrutura precisará ser compensada por um
crescimento mais moderado das despesas correntes. O nome do jogo, em 2011,
deverá ser disciplina fiscal. Será preciso fazer
conta e não mais simplesmente mandá-la para o contribuinte.
Na política
cambial, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que foi confirmado no cargo,
já disse que fará o que julgar necessário para prevenir
valorizações adicionais e indesejáveis do real. Na
prática, é possível que o próprio mercado
comece a promover alguma correção no patamar do cambio real,
diante do acúmulo de déficits em conta corrente que tende
a situar-se acima de US$ 50 bilhões em 2011, depois de já
ter atingido esse patamar em 2010.
Isso, entretanto,
é apenas uma hipótese, pois enquanto a economia brasileira
for vista como muito atraente pelos investidores internacionais (juros
elevados na renda fixa e oportunidades nos investimentos diretos) o volume
dos ingressos de recursos externos poderá continuar a pressionar
por valorizações do real.
*Economista, consultor com mestrado pela FGV e ex-diretor do BC
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