Opinião
- Edição 572 -
Jornal NippoBrasil
Política cambial - China e o resto do mundo
Alberto Furuguem*
O sistema
de câmbio flutuante tem sido,em geral, considerado (como o mais
eficiente e desejável), sendo praticado na maioria dos países
desenvolvidos e em boa parte das nações em desenvolvimento.
Na prática, entretanto, mercados cambiais inteiramente livres de
intervenção, não existem. Em maior ou menor grau,
os bancos centrais costumam intervir, para amenizar volatilidades, ou
mesmo tentar corrigir tendências consideradas indesejáveis.
Destoando dessa
orientação temos a China, a segunda maior economia do planeta,
com uma taxa de câmbio praticamente fixa e uma moeda muito desvalorizada.
Isso dá àquele país uma grande vantagem na competição
internacional, tanto pelo lado das exportações, quanto da
atração de capitais. Fica mais barato produzir na China
e exportar, além de vender no próprio mercado interno de
mais de um bilhão de pessoas. Essa situação explica,
em boa medida, porque a China segue crescendo a taxas aceleradas, em um
cenário internacional ainda bastante incerto. É claro que
a política cambial não constitui o principal fator por trás
de suas elevadas taxas de crescimento (a poupança, por exemplo,
chega a 50% do PIB), mas não há dúvida de que se
trata de uma variável relevante. Caso contrário, a China
não resistiria às pressões internacionais (principalmente
dos EUA) para valorizar o yuan.
Algum dia,
no futuro, é de se esperar que a China entre para o clube dos países
que praticam o sistema de câmbio flutuante. Isso, entretanto, poderá
demorar muitos anos.
A cada reunião
do G-20, a China promete valorizar o yuan, ou até faz alguma pequena
valorização prévia, para não ficar muito desconfortável
diante da pressão internacional. As valorizações
pontuais da moeda tem sido, entretanto, milimétricas, diante do
que seria necessário para colocar o yuan em patamar mais consistente
com as moedas dos seus principais parceiros comerciais.
Enquanto a
China estiver gostando dos resultados de manter um câmbio praticamente
fixo e uma moeda muito desvalorizada, será difícil mudar
substancialmente essa situação.
Apesar das
sugestões de órgãos multilaterais (como o FMI) e
das pressões de outros países (como os EUA), ou blocos de
países (como a zona do euro), a China, ou qualquer outro país,
pode alegar o direito de soberania para conduzir sua própria
política cambial.
Realisticamente,
tudo indica que somente vamos ter um ajuste estrutural na política
cambial chinesa, quando aquele país estiver em estágio bem
mais avançado de desenvolvimento, exibindo um padrão de
vida médio de sua população bem mais elevado que
o atual.
Enquanto isso
não acontecer, países que se sintam prejudicados pela concorrência
dos produtos chineses, nos mercados interno e externo, tendem a buscar
suas próprias soluções.
O resultado
poderá não ser dos mais brilhantes, em termos globais, na
medida em que resulte em disseminação de decisões
protecionistas (por cotas e tarifas) e mesmo algum tipo de guerra cambial.
Em um cenário de aumento do protecionismo e guerra cambial, todos
(ou a maioria) sairão perdendo.
O melhor caminho
prático, para reduzir os riscos inerentes a essa situação,
seria uma boa coordenação macroeconômica entre as
principais economias do mundo.
*É Economista, consultor com mestrado
pela FGV e ex-diretor do BC
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