(Texto
e foto: NippoBrasil)
A
frase: Conheça o Oriente sem sair de São Paulo
é usada por inúmeros comerciantes para definir o
bairro da Liberdade, um dos mais tradicionais, atrativos e famosos
de São Paulo. Conhecido anteriormente como bairro
japonês devido à grande concentração
dos imigrantes na região, a Liberdade passou por um processo
de remodelação a partir da década de 70.
No dia 9, a Liberdade completa 25 anos desde a conclusão
da primeira etapa da transformação em Bairro
Oriental, ocorrida em novembro de 1974.
Para
comemorar essa data, o NIPPO-BRASIL trará uma série
de reportagens tratando da Liberdade desde a chegada dos japoneses,
a era que antecedeu a chegada deles e sua atual situação.
Nesta edição, mostraremos como se iniciou a presença
japonesa na Liberdade.
Largo
da Forca
A
denominação Liberdade apresenta várias versões.
A mais aceita remonta ao período Colonial, quando aplicava-se
a pena de morte no Largo da Forca, atual Praça da Liberdade.
Um fato ocorrido no dia 21 de setembro de 1821 chamou a atenção.
O soldado Chaguinhas foi condenado ao enforcamento no local. A
sua execução comoveu a todos que assistiam à
punição. Quando o corpo dele foi lançado
ao solo, a corda arrebentou três vezes. O público
pedia clemência e gritava : Liberdade!. Como
o soldado sobreviveu às tentativas de enforcamento, foi
morto a pauladas.
Outra
versão, segundo Angelina Obata, pesquisadora do Museu da
Imigração Japonesa no Brasil que faz um trabalho
sobre a comunidade nikkei, atribui o nome do bairro ao fato de
que muitos condenados à forca obtiveram ali a sua liberdade
espiritual.
Bairro
japonês
A
trajetória japonesa na Liberdade começa em 1907.
Nesse ano, instalou-se no bairro a Companhia Japonesa de Imigração
Kokoku, responsável pela chegada dos 830 primeiros imigrantes
japoneses a bordo do navio Kasato Maru, que aportou no País
no ano de 1908, no Porto de Santos. Apesar da presença
dessa companhia, os nipônicos não permaneciam em
São Paulo. A maioria ia trabalhar nas fazendas de café
no interior paulista.
Aos
poucos, no entanto, os japoneses começaram a trocar a zona
rural pela urbana. O primeiro ponto de encontro dos que vinham
das lavouras foi uma casa alugada pela empresa Comercial Fujisaki,
na rua São Paulo nº 20, transformada em uma espécie
de pensão.
Em
1912, os imigrantes passaram também a residir nas casas
e porões da Rua Conde de Sarzedas. Nesse local, começaram
a constituir vários estabelecimentos comerciais, como hospedarias,
empórios, uma casa fabricante de tofu, ficando conhecida
como a rua dos japoneses. Iniciou-se um comércio
intenso na área. Muitos não falavam português
e vinham do interior de São Paulo para estudar e trabalhar,
conta a pesquisadora Angelina Obata.
Guerra
e expulsão
Por
força de um decreto, a presença dos nipônicos
em São Paulo foi abalada. Quando o Brasil participou da
Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o governo declarou o Japão
como nação inimiga. No dia 6 de setembro de 1942,
os japoneses foram expulsos da Rua Conde de Sarzedas. Qualquer
concentração deles era vista como um complô
pelas autoridades. A aglomeração de imigrantes
a 600 metros dos marcos considerados nacionais, como a Catedral
da Sé, também foi proibida, explica Angelina.
A situação só voltou ao normal após
a rendição do Japão.
Novo
impulso
Nas
décadas de 50 e 60, os cinemas que exibiam filmes japoneses
tornaram-se o principal lazer dos imigrantes: havia os cines Nippon
(Rua Santa Luzia); Jóia (Pça. Carlos Gomes); Tóquio
(Rua São Joaquim), mas o mais importante de todos é
considerado o Cine Niterói. Inaugurado em julho de 1953,
transformou-se no grande ponto de encontro da comunidade, e serve
como um marco para o desenvolvimento comercial da Liberdade, com
a irradiação de hotéis, restaurantes e várias
lojas.
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Shuhei
Otsuka e Mituto Mizumoto. Eles dão nomes a logradouros
no bairro da Liberdade. Muita gente já deve ter passado
por lá, mas talvez nem saibam quem foram eles.
Shuhei
Uetsuka, por exemplo, é considerado o pioneiro da Imigração
Japonesa no Brasil. Nasceu na província de Kumamoto em
1875. Em 1908, desembarcou com 781 imigrantes em solo brasileiro.
Uetsuka serviu de intermediário entre fazendeiros e imigrantes.
No ano de 1918, deu origem à primeira colônia brasileira,
recebendo condecorações do governo japonês.
Morreu em 1935 aos 60 anos de idade. O viaduto, localizado entre
as ruas São Paulo e Dr. Lund, leva seu nome desde 73.
Já
Mituto Mizumoto é outro que teve uma trajetória
importante dentro da comunidade. Também nascido em Kumamoto
no ano de 1914, chegou ao País em 1929. Mizumoto tinha
uma pensão na rua Conde de Sarzedas, mas foi como comunicador
que se destacou: em outubro de 1946 fundou o jornal São
Paulo Shimbun. O seu trabalho de intercâmbio entre o Brasil
e Japão rendeu-lhe uma homenagem póstuma das autoridades
brasileiras. Em 93, a rua Tomás de Lima passou a se chamar
Mituto Mizumoto. Ele morreu em novembro de 1991.
Osaka
Finalizado
no ano de 1970, o viaduto, entre as ruas Américo de Campos
e Estudantes, possui o nome de Osaka (uma cidade japonesa) graças
ao convênio firmado entre as cidades de São Paulo
e Osaka , que as tornaram co-irmãs. Já no caso do
viaduto Mie-ken (uma província do Japão), em 73,
o logradouro, entre as ruas Galvão Bueno e Conselheiro
Furtado, recebeu esse nome como uma homenagem ao convênio
estabelecido entre o Estado de São Paulo e a província
de Mie. Antes era chamado de viaduto da Rua da Glória.
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