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Mais
da metade das japonesas são funcionárias não
efetivas, ou seja, está empregada em atividades de meio período
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(Reportagem:
Yoko Fujino/NB | Fotos: Kyodo)
A primeira
lei japonesa que prega a igualdade entre os sexos no trabalho data de
1º de junho de 1985. Mas o que realmente mudou nestes últimos
25 anos? De acordo com um estudo feito por pesquisadores britânicos,
muito pouco na verdade. Eles chegaram à conclusão que a
sociedade local ainda impõe barreiras ao sucesso profissional das
mulheres. Prova disso é que mais da metade das japonesas que trabalham
no arquipélago são funcionárias nãoefetivas
a maioria tem emprego de meio período.
Segundo o estudo,
grande parte delas voltou ao mercado de trabalho após o nascimento
de seus filhos, assim como acontece em vários países da
Europa. No entanto, as vagas de meio período no Japão são
bem restritas no que se refere à quantidade de horas trabalhadas
e à posição das mulheres dentro das empresas.
O ponto interessante
levantado pelos pesquisadores é que essa situação
é, indiretamente, alimentada pelo governo. Os homens podem incluir
suas mulheres como dependentes na declaração de imposto
de renda, desde que o salário delas não ultrapasse um milhão
e 3 mil ienes (R$ 20.210) ao ano, se elas trabalharem em empregos de meio
período. Assim, além de as mulheres não recolherem
tributos, aliviam a taxação em cima do marido. Desta forma,
o sistema tributário japonês encoraja não só
elas e a família a permanecerem nessa situação como
as empresas a pagarem menos às suas funcionárias.
Problema
cultural
Para os pesquisadores,
embora a questão financeira colabore, o cerne é mesmo cultural.
Eles citam as corporações que ainda são adeptas da
filosofia de que cabe aos homens o papel de chefe de família e
provedor do lar enquanto para as mulheres basta um emprego para complementar
a renda, geralmente em vagas para recepcionistas ou de atendimento ao
cliente, sem grandes chances de promoção. E uma prova de
que o problema está arraigado na sociedade nipônica é
que essa segmentação de gêneros é
bastante aceita em pesquisas de opinião.
É
necessário mudar a mentalidade das pessoas. Se isso não
for feito, nada vai acontecer, afirma Helen Macnaughtan, pesquisadora
da Universidade de Londres. Helen diz ainda que é preocupante o
fato de que as mulheres que possuem formação universitária
e que teriam mais chances de conquistar cargos de liderança
dentro de uma empresa são ainda menos propensas a trabalhar
do que aquelas que possuem cursos técnicos ou não frequentaram
a universidade.
Esse cenário
se deve, em parte, à estrutura de trabalho das empresas japonesas.
Em uma cultura em que é comum as longas jornadas de trabalho, ainda
mais para aqueles funcionários essenciais na organização
da companhia, fica impossível para as mulheres conciliarem carreira
e família, principalmente para aquelas que têm filhos pequenos.
Estatísticas
do governo japonês mostram que muitas das pessoas do sexo feminino
que alcançam cargos estratégicos dentro das empresas acabam
abandonando suas carreiras no auge, por volta dos 30 anos, idade em que
se casam ou têm seus primeiros filhos. Caso se depare com
uma carga horária de 15 horas diárias, a maioria das mulheres
desiste, justifica Kuniko Inoguchi, ex-ministra de Igualdade Entre
os Gêneros e Assuntos Sociais. O problema é tão grave
que o Japão foi apontado em 2008 como o 54º país do
mundo no ranking da Organização das Nações
Unidas que analisa a igualdade entre homens e mulheres na sociedade.
Pior do que
isso, é que mesmo aquelas que conseguem vagas em empresas estrangeiras,
que tradicionalmente proporcionam um ambiente mais propício para
a conciliação de carreira e família, sentem-se incomodadas
com o próprio sucesso profissional. De acordo com o estudo, é
muito comum as japonesas pedirem demissão por se sentirem desconfortáveis
com suas promoções e suas raras funções de
liderança em uma sociedade que não se mostra preparada para
isso.
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