(Fonte:
Agência FAPESP/Fernando Cunha, de Tóquio | Foto:
NippoBrasil)
Duas
décadas depois de chegarem ao Brasil, os primeiros imigrantes
japoneses estabelecidos na Amazônia iniciaram na década
de 1930, em assentamento a 200 quilômetros ao sul de Belém,
um projeto originalmente voltado para o cultivo de cacau que
evoluiu para um modelo sustentável e economicamente viável
de práticas agroflorestais no país.
A
experiência foi relatada no Simpósio Japão-Brasil
sobre Colaboração Científica, realizado
pela FAPESP e pela Sociedade Japonesa para a Promoção
da Ciência (JSPS) nos dias 15 e 16 de março na
Universidade Rikkyo, com apoio da Embaixada do Brasil em Tóquio.
Com
foco na atividade econômica produtiva, Masaaki Yamada,
professor na Universidade de Agricultura e Tecnologia de Tóquio,
falou sobre as etapas de desenvolvimento do projeto agrícola
iniciado nos anos 1930 em Acará (hoje Tomé-Açu),
para cultivo do cacau, que em 80 anos estabeleceu um modelo
sustentável de produção naquela região.
"O
projeto foi interrompido no período inicial da imigração,
pré-Segunda Guerra Mundial, pela falta de conhecimento
dos imigrantes sobre técnicas de agricultura tropical,
mas seguiu com a produção de arroz e horticultura
pela iniciativa de apenas 200 dos 2 mil imigrantes que sobreviveram
à malária ou que decidiram não se mudar
para grandes cidades", disse Yamada.
Com
o fim da guerra, cerca de 500 famílias passaram a cultivar
no assentamento a pimenta preta (pimenta-do-reino), cujos preços
aumentaram no mercado mundial em razão dos conflitos
na Ásia tropical naquele período. "A monocultura
induzida de pimenta preta se tornou suscetível à
flutuação do mercado global de pimenta e a surtos
de doenças de plantas nas décadas seguintes",
disse Yamada.
Por
esse motivo, nos início dos anos 1970, sob a coordenação
da recém-criada Cooperativa Agrícola Mista de
Tomé-Açu (Camta) e orientação técnica
do Serviço de Emigração Japão (antecessora
da Agência de Cooperação Internacional do
Japão, Jica) os agricultores passaram a desenvolver sistemas
agroflorestais sucessionais, cultivando espécies com
potencial econômico como maracujá, cacau e árvores
altas, em consórcio com as plantas ainda produtivas de
pimenta.
Mais
diversificada na década seguinte, a Camta passou a cultivar
outras espécies de frutas tropicais, como banana e melão,
construiu uma fábrica experimental de sucos com capacidade
de armazenar 50 toneladas de produtos congelados e criou a Tomé-Açu
Sistemas Agroflorestais, organização reconhecida
pelo desenvolvimento de tecnologias sociais de produção.
"Desde
esse período a cooperativa conseguiu ampliar a capacidade
da fábrica para as atuais 2 mil toneladas", disse
Yamada.
Segundo
o pesquisador, abalada pelo período de hiperinflação
no Brasil e por conflitos sociais no sul do Pará, a Camta
passou a investir na extensão informal de técnicas
agroflorestais para as comunidades rurais ao redor do assentamento.
Conhecidos pelas práticas agroflorestais economicamente
viáveis, os líderes da cooperativa passaram a
ser convidados para prestar assistência técnica
em vários estados brasileiros e em países vizinhos.
Desde
2001, a Universidade de Agricultura e Tecnologia de Tóquio
(Tuat) trabalha com a Camta, em projetos com apoio da Jica,
para disseminar as tecnologias sociais desenvolvidas em Tomé-Açu
para comunidades rurais sujeitas a desafios técnicos
e socioeconômicos no nordeste do Pará. Hoje, a
cooperativa oferece orientação pela internet a
projetos e a estudantes e promove colaborações
a partir de acordos com instituições locais.
www.agencia.fapesp.br
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