Opinião
- Edição 587 - Jornal NippoBrasil
Governo Dilma Rousseff, bom começo
Alberto Furuguem*
Embora um mês e pouco seja insuficiente para se ter idéia
de como poderá ser o governo Dilma Roussef, não há
dúvida de que, pelo menos no estilo pessoal, já se pode
ter certeza de que será muito diferente. A gabolice de Lula foi
substituída estilo sóbrio da nova presidente.
No campo administrativo,
o blá-blá-blá de palanque, deu lugar a ações
pontuais e objetivas. Um exemplo foi a postura de Dilma diante da tragédia
na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Providências
concretas foram adotadas, para o alcance de objetivos emergenciais, bem
como os de curto, médio e longo prazo. Na área econômica
os sinais emitidos no primeiro mês do governo Dilma Roussef foram
corretos, a nosso ver.
Na política
fiscal a sinalização é de austeridade nos gastos
públicos: a) No que depender do governo federal o salário
mínimo deverá ser de R$ 545,00, apesar das pressões
da área sindical (que pleiteia R$ 580,00); b) Fala-se no desejo
de reduzir a carga tributária sobre a folha de pagamentos, algo
mais do que desejável (para o bem da economia brasileira); c) A
compra de aviões para a Força Aérea brasileira está
postergada para o próximo ano; d) O ministro da Saúde fala
em gastar melhor os recursos disponíveis e não
em criação de novas fontes de financiamento (novos impostos,
como a famigerada CPMF, que, esperamos, jamais volte); e) Os ministros
da Fazenda (Mantega) e do Planejamento (Mirian Belchior) anunciam corte
de R$ 50 bilhões no Orçamento para 2011.
Na área
da política monetária o Banco Central, na primeira reunião
do seu Comitê de Política Monetária (Copom), deu continuidade
ao ajuste requerido para conter pressões inflacionárias.
Desta vez, outros membros do governo federal deixaram de comentar (criticar)
a decisão do BC, o que revela maior coordenação administrativa.
Na política
cambial, novas medidas foram adotadas visando conter a valorização
do real. Na área cambial são maiores os riscos de se cometer
erros estratégicos fundamentais em períodos de vacas
gordas.
E a economia
brasileira passa por um período excepcional de vacas gordas
em termos cambiais: preços dos grãos e outras commodities
nas alturas (gerando grande receita cambial), perspectivas do pré-sal
(que pode elevar exageradamente a disponibilidade de recursos cambiais),
reservas cambiais atingindo a marca histórica de US$ 300 bilhões,
elevados juros oferecidos aos investidores em renda fixa (que atrai grande
volume de recursos externos). Se não tivermos um plano estratégico
de longo prazo na política cambial poderemos criar, neste período
da vacas gordas, um ambiente propício à estagnação
duradoura da economia brasileira. Foi o que aconteceu com a economia japonesa
na década l980, com a valorização do iene. A diferença
é que naquela altura, o padrão de vida naquele país
já era dos mais elevados e a renda bem distribuída. Como
ficou muito caro produzir no Japão as empresas daquele país
passaram a investir nos países vizinhos da Ásia e em outros
países do Ocidente.
Neste momento,
a valorização do real já está provocando destruição
de empregos no Brasil e criação de empregos em nossos vizinhos
(Argentina, Uruguai, Paraguai) e mesmo em outros continentes (na China
e nos Estados Unidos, por exemplo).
O cenário
da economia mundial, que funcionou como vento fortemente a favor durante
a maior parte do governo anterior, dá sinais de recuperação
sustentável (visão predominante no Fórum Econômico
Mundial, em Davos, na Suíça), o que se não ajudar
tanto poderá pelo menos não atrapalhar neste e nos próximos
anos.
Se na maior
parte do governo anterior a passividade administrativa e a retórica
foram suficientes para gerar crescimento e bons dividendos políticos,
agora isso não será mais possível.
Será
necessário melhorar a qualidade da gestão o que, ao que
parece, poderá ser uma característica do novo governo. Pelo
menos foi o que nos foi dado perceber neste início do governo Dilma
Rousseff.
*É Economista, consultor com mestrado
pela FGV e ex-diretor do BC
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