Opinião
- Edição 585 - Jornal NippoBrasil
Cenário para investimentos em 2011
Alberto Furuguem*
Não
há dúvida de que em 2011 as aplicações em
renda fixa continuarão a representar excelente opção
para os investidores, que buscam boa rentabilidade com baixo risco.
Na primeira
reunião do Copom, deste ano, o juro básico do Banco Central
do Brasil passou a 11,25% a.a. o que significa, em princípio, um
juro real superior a 5% a.a., algo raro, se é que existe em outros
mercados financeiros. Tudo indica, por outro lado, que o processo de ajuste
(aperto) na política monetária terá prosseguimento
nas próximas reuniões do conselho, assegurando uma taxa
de juro real elevada ao longo deste ano. Essa atratividade dos investimentos
em renda fixa, no mercado financeiro brasileiro, explica, em boa medida,
a valorização do real, impulsionada pela entrada de recursos
externos.
Desde a crise
financeira internacional (que atingiu seu ápice em setembro de
2008), os juros em vigor nos principais mercados financeiros do primeiro
mundo têm sido muito baixos ou negativos, e a solidez do sistema
bancário, com frequência, colocado em dúvida. Assim,
pelo menos temporariamente, a busca pela qualidade (flight to quality)
parece estar ocorrendo, em certa medida, no sentido contrário do
tradicional, pois alguns mercados emergentes (como é o caso do
brasileiro), além de proporcionar maiores rendimentos, parecem
mais seguros aos olhos dos investidores. Isso, naturalmente, trás
como consequência a tendência para valorização
da moeda nacional. Assim, deixado ao sabor do mercado, a tendência
natural poderia ser o da valorização (queda do dólar)
adicional do real, apesar do crescente déficit em conta corrente.
Mas o governo tem dado sinais de que não pretende ficar passivo
na área cambial e novas medidas poderão ser adotadas para
conter a valorização do real. Assim, as operações
com moeda estrangeira deverão estar sujeitas, tanto ao comportamento
da conjuntura internacional quanto das eventuais medidas adotadas pelo
governo. A evolução da economia norte-americana, em especial,
poderá afetar decisivamente o movimento dos fluxos financeiros
internacionais. O Federal Reserve (o Banco Central americano) tem mantido
a taxa básica de juro entre zero e 0,25 %, mas em algum momento
esse cenário deverá começar a mudar.
Os investimentos
nas bolsas deverão demandar especial cuidado em 2011. Apesar de
a tendência geral ser de valorização (reflexo do crescimento
do PIB), há que considerar a concorrência da renda fixa e
as incertezas ainda reinantes no cenário da economia mundial. Na
economia brasileira, será necessário prestar atenção
nos movimentos que serão dados pelo governo Dilma Rousseff, tanto
em face das necessidades conjunturais, quanto do próprio estilo
da nova chefia do Executivo. A fase de expansão geral dos gastos
públicos (característica do período Lula) ao que
tudo indica, já ficou para a história. A etapa agora é
de exercício de critérios de prioridade e expansão
mais moderada dos gastos públicos em geral. A bolsa de valores
terá, necessariamente, de refletir essa nova realidade da economia
brasileira.
No mercado
imobiliário, depois de um período de grande valorização,
parece estar havendo acomodação. Não há dúvida,
de qualquer modo, de que a expansão do crédito continuará
a representar um fator importante para alimentação desse
mercado. A elevação da taxa de juro deverá funcionar,
por outro lado, como elemento moderador do processo de expansão
do mercado imobiliário. Um crescimento mais lento da renda (menor
crescimento do PIB) também deverá afetar o comportamento
do mercado imobiliário. Enfim, as operações de compra
e venda de imóveis deverão contar, em 2011, com um ambiente
mais tranquilo que em 2010 (quando o rápido crescimento da renda
e do crédito fez os preços dispararem).
Em tempos de
grandes incertezas, os investimentos em metais preciosos foram compensadores,
nos últimos tempos. A pergunta é: e o futuro? Admitindo-se
que o cenário mais provável da economia mundial seja o da
normalização pós-crise, apostar em continuidade na
valorização do ouro, por exemplo, poderá se mostrar
uma opção de elevado risco.
Em suma, para
os investidores que não gostam de fortes emoções,
o ano de 2011 pode ser ou continuar a ser de ouro nas aplicações
de renda fixa. Tudo o mais poderá estar sujeito a chuvas e trovoadas,
literalmente...
*Economista, consultor com mestrado pela FGV e ex-diretor do BC
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