Opinião
- Edição 576 - Jornal NippoBrasil
O avanço dos soldados de terracota
Tokujo Antônio
Maeda*
Haja
fôlego, papéis e canetas Bics para falar sobre a agora superlativa
China. Até então apenas coadjuvante na economia política
mundial, o país passou a despertar amor e ódio. Há
dois anos, na Olimpíada, a fantástica Beijin 2008, o país
mostrou as verdadeiras cara e força da nova ordem econômica
na Ásia. Foi um claro aviso ao Ocidente. Uma nação
que cresce atualmente na base de 10 por cento ao ano provou aos mais de
200 países participantes dos jogos que a hora e a vez são
dos mandarins. Abocanharam um total de 51 medalhas de ouro e o honroso
primeiro lugar.
Duas semanas
atrás o presidente Lula, ao lado de Dilma Rosseff, futura chefe
de Estado, foi participar na Coreia do Sul da reunião do G20, e
mandou bronca dizendo que tem de se trabalhar a favor dos países
emergentes, acusando a China e os Estados Unidos de desvalorizarem suas
moedas, enquanto o Brasil flutuava o real. Entretanto, quem acredita na
imortalidade e perpetuação dos leais soldados de terracota
do Antigo Império, como os chineses, provavelmente jamais vai confiar
nas tênues assinaturas de protocolo, tintas dissolventes sobre o
papel igualmente degradável. É amassar e lançar à
cesta. A viagem foi perda de tempo.
Quem será
o primeiro a declarar guerra numa guerra não convencional, a guerra
do câmbio? E quem disse que a guerra fria acabou? Nos bastidores,
as grandes potências sempre agiram em silêncio mesmo depois
da queda do Muro de Berlim e a dissolução da URSS. O meio
camuflado, os cálculos, a matemática e os ensaios continuam.
Apenas não estão exibindo mais como antes ogivas nucleares,
mísseis balísticos em desfiles públicos.
É tarde
demais para perceber que a China não vai largar o osso tão
facilmente. O protecionismo e os subsídios que tanto atormentam
Lula continuarão atormentado. Ninguém será capaz
de mudar o valor e o conceito do capitalismo: a concorrência maquiavélica.
O povo chinês, que sempre viveu na sombra da Grande Muralha, e agora
pôde captar que a sua economia de subsistência se transformou
em economia de mercado, tem o direito de afirmar: Não somos
como o Brasil que distribui dinheiro ao povo; aqui nós baixamos
o imposto e trazemos indústrias para fazer riquezas. A Praça
da Paz Celestial que tanto sofrimento trouxe à humanidade continua
vermelha, não aceita contestações dos cidadãos,
e muito menos terá piedade no eventual desequilíbrio da
vida dos cidadãos. Enquanto isso, a tese de Lula escorre e se perde
sem proveito.
O crescimento
da China não é mero capricho do comunismo, assim, não
tem porque curtir a dor de cotovelo. Outrora fortes, moedas como marco
alemão, florim, lira, xelim, libra esterlina, iene, dólar,
etc. têm de ceder lugar ao notável yuan. Ou provocar a III
Grande Guerra? A primeira aconteceu porque os países europeus tinham
ciúmes entre si por causa das concorrências; na Segunda,
Adolf Hitler pregou o nazismo: achou que os glóbulos vermelhos
do sangue tinham de ser azuis, pretendia criar uma raça pura e
dominar o mundo. Deu no que deu, matou 50 milhões de pessoas.
Seria bom pedir
a intervenção da Índia, integrante do BRIC, se quisermos
ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Esse assunto
vai acabar em pizza, e os chineses, que por enquanto não querem
saber dos talheres ocidentais, vão obrigar a comê-la com
pauzinhos, ou seja, à sua maneira.
Se os tigres
asiáticos dos hoje reluzentes concretos armados já são
mansos, agora querem domesticar os pandas asiáticos
que estão tomando gosto pela selvageria do dinheiro.
*Jornalista
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