Opinião
- Edição 569 - Jornal NippoBrasil
Riquezas naturais podem se tornar em problemas potenciais
Teruo Monobe*
Três
artigos que saíram nos dias 19 e 20 de setembro alertam para problemas
potenciais que podem ocorrer em função da dependência
de recursos naturais, caso os países detentores dessas riquezas
não tenham competência para geri-los. Os artigos são
do New York Times (A armadilha dos recursos), traduzido pela
Folha, que se refere à exploração do cobre no Chile.
Outros artigos são da Folha (Economista faz alerta para bolha
do petróleo no Brasil) e do Valor Econômico (Um
dinheiro do pré-sal que deveria ser poupado).
O artigo sobre
o Chile alerta que o país continua sendo dependente das exportações
de cobre, cuja participação no comércio externo chileno
havia caído nos últimos anos. O caso pode ser estendido
para outros países da América Latina, que têm se revelado
incompetentes em se libertar da dependência das commodities, que
garantem a sobrevivência, mas os tornam vulneráveis aos ciclos
de prosperidade e decadência, além das terríveis flutuações
cambiais. Não se trata da doença da vaca holandesa, como
abordamos recentemente no Nippobrasil.
Como não
se trata disso, a explicação é a atual voracidade
chinesa por matérias-primas. Para manter o crescimento, o país
asiático se volta para a América Latina, cujo continente
foi, no passado, o grande fornecedor de recursos naturais. Quer dizer,
nos dias atuais os chineses substituem os portugueses e os espanhóis.
Também levam a soja do Brasil, o minério de ferro do Brasil
e da Argentina, o petróleo da Venezuela e outros bens. Logo chegarão
à Bolívia, país que detém 50% das reservas
conhecidas de lítio, matéria-prima essencial para as baterias
dos carros elétricos.
A questão
levantada é que, passada a crise global, a economia chinesa está
a todo vapor fazendo que o país aumentasse em 45% as importações
das nações latino-americanas nos primeiros seis meses deste
ano. A venda de matérias-primas é feita em detrimento da
exportação de produtos manufaturados e serviços,
isto é, os países perdem a chance de diversificar sua pauta
de negócios. É exatamente isso que está contido no
relatório da Cepal (Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe).
Já
são conhecidas as limitações dos países latino-americanos
em investir em ciência e tecnologia, fato que parece ser a grande
sina também do Brasil. O investimento em ciência e tecnologia
aqui ainda é considerado baixo. A culpa é dos governantes
que preferem direcionar o investimento em outras áreas mais visíveis
politicamente. Embora proposto por diversos analistas, é enganoso
dizer que o rumo dos países latino-americanos é gerar uma
sociedade baseada no conhecimento. O país ainda está muito
longe dessa realidade.
A questão
levantada em outro artigo de jornal é a euforia que nosso País
atravessa pela riqueza do pré-sal, o que levou a Petrobrás
a fazer a maior capitalização da história. O alerta
da ocorrência de uma bolha do petróleo é
dado pelo economista Robert Shiller, um teórico destes fenômenos.
De acordo com ele, o otimismo do pré-sal, cuja exploração
deverá tornar-se realidade só em 2020, é exagerado.
O economista faz referência ao México, que nos anos 1980,
descobriu reservas imensas de petróleo, endividou-se e quebrou
em 1994.
A explicação
psicológica de Shiller é de que faz parte da natureza humana
a reação exagerada quando há riqueza e prosperidade.
De acordo com ele, são emoções coletivas que
fazem tudo parecer um sucesso. Para ele, o governo deveria manter
o controle da situação, não deixando chegar a psicologia
das bolhas. A capitalização da Petrobrás, uma engenhosa
operação financeira proposta por competentes profissionais
de mercado, teve a finalidade, entre outras, de encher os cofres do Tesouro,
e agora é preciso vigiar como o dinheiro vai ser gasto.
Cálculos
indicam que o governo vai dispor de dinheiro mais que suficiente para
fechar as contas em 2010, cumprindo-se o primeiro objetivo da capitalização.
Com os recordes de arrecadação que a Receita Federal tem
obtido neste ano, não vai haver muitos problemas no curto prazo.
Fica apenas o alerta de que os recursos antecipados do pré-sal
sejam utilizados com sabedoria (em educação, por exemplo).
Caso contrário, fica a noção de que os recursos naturais
dos países latino-americanos representam um fardo e não
uma dádiva.
*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP
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